A hora e a vez de Camaçari

A hora e a vez de Camaçari

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Geni e o Zepelim Chico Buarque/1977-1978Para a peça Ópera do malandro, de Chico Buarque
De tudo que é nego tortoDo mangue e do cais do portoEla já foi namoradaO seu corpo é dos errantesDos cegos, dos retirantesÉ de quem não tem mais nadaDá-se assim desde meninaNa garagem, na cantinaAtrás do tanque, no matoÉ a rainha dos detentosDas loucas, dos lazarentosDos moleques do internatoE também vai amiúdeCo'os velhinhos sem saúdeE as viúvas sem porvirEla é um poço de bondadeE é por isso que a cidadeVive sempre a repetirJoga pedra na GeniJoga pedra na GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni
Um dia surgiu, brilhanteEntre as nuvens, flutuanteUm enorme zepelimPairou sobre os edifíciosAbriu dois mil orifíciosCom dois mil canhões assimA cidade apavoradaSe quedou paralisadaPronta pra virar geléiaMas do zepelim giganteDesceu o seu comandanteDizendo - Mudei de idéia- Quando vi nesta cidade- Tanto horror e iniqüidade- Resolvi tudo explodir- Mas posso evitar o drama- Se aquela formosa dama- Esta noite me servir
Essa dama era GeniMas não pode ser GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita Geni
Mas de fato, logo elaTão coitada e tão singelaCativara o forasteiroO guerreiro tão vistosoTão temido e poderosoEra dela, prisioneiroAcontece que a donzela- e isso era segredo delaTambém tinha seus caprichosE a deitar com homem tão nobreTão cheirando a brilho e a cobrePreferia amar com os bichosAo ouvir tal heresiaA cidade em romariaFoi beijar a sua mãoO prefeito de joelhosO bispo de olhos vermelhosE o banqueiro com um milhãoVai com ele, vai GeniVai com ele, vai GeniVocê pode nos salvarVocê vai nos redimirVocê dá pra qualquer umBendita Geni
Foram tantos os pedidosTão sinceros, tão sentidosQue ela dominou seu ascoNessa noite lancinanteEntregou-se a tal amanteComo quem dá-se ao carrascoEle fez tanta sujeiraLambuzou-se a noite inteiraAté ficar saciadoE nem bem amanheciaPartiu numa nuvem friaCom seu zepelim prateadoNum suspiro aliviadoEla se virou de ladoE tentou até sorrirMas logo raiou o diaE a cidade em cantoriaNão deixou ela dormirJoga pedra na GeniJoga bosta na GeniEla é feita pra apanharEla é boa de cuspirEla dá pra qualquer umMaldita

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