A hora e a vez de Camaçari

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Negras Mulheres Jovens

Negras Mulheres Jovens

agosto 23, 2007 por dialogoj

Uma aliança inter-geracional pelo combate ao racismo o sexismo a lesbofobia e o adultocentrismo

Por Latoya Guimarães

Negras Jovens Feministas durante a II Conferência

Estamos contentes e temos motivos para comemorar, nos dias 17,18,19 e 20 de agosto, durante a II Conferencia Nacional de Políticas para as Mulheres em Brasília, as jovens feministas, negras, indígenas, lésbicas, rurais, quilombolas, deram um show de autonomia, solidariedade, tolerância e respeito às diferenças, jovens participantes dos mais diversos segmentos e identidades construíram aliança e firmaram pactos e compromissos pela afirmação dos direitos das mulheres e por um feminismo sem racismo, sexismo e lesbofobia. Nossa identidade de jovens coexistiu com nossas identidades raciais de orientação sexual, territoriais e de classe, provando que: as identidades se complementam e jamais devem se sobrepor e ou anularem-se em contato com outras. Estou muito feliz com os resultados dessa aliança e parabenizo todas as jovens que ousaram assumir o desafio de celebrar as diferenças. Como resultado/produto dessa aliança podemos citar:

1. A visibilidade e reafirmação dos direitos das mulheres negras com a introdução e aprovação do EIXO DE COMBATE AO RACISMO O SEXISMO E A LESBOFOBIA.

2. Reunião das jovens feministas (negras, lésbicas, indígenas, rurais) com a Ministra Nilceia Freire, da Secretaria especial de políticas para as Mulheres, que assumiu o compromisso de REALIZAR UMA VIDEO CONFERENCIA COM AS JOVENS FEMINISTAS PARA A CONTRUÇÃO DE UMA AGENDA COM AS JOVENS.

3. Introdução da TEMATICA ETNICO RACIAL, ORIENTAÇÃO SEXUAL, GERACIONAL, DEFICIENCIA, em todas as prioridades do plano nacional.

4. Compromisso publicamente assumido pela Ministra Nilceia Freire de APOIAR UM ENCONTRO PREPARATÕRIO DAS JOVENS A CAMINHO DAS CONFEREENCIA DE JUVENTUDE.

5. A introdução/caracteriz ação da religião de MATRIZES AFRICANAS como prioridade no plano Nacional de políticas para as mulheres.

6. Compromisso publicamente assumido pela Ministra Nilceia Freire de GARANTIR A REPRESENTAÇÃO DE UMA JOVEM NA COMISSÃO DE SISTEMATIZAÇÃO DAS RESOLUÇÕES DA CONFERENCIA.

7. Compromisso publicamente assumido pela Ministra Nilceia Freire de GARANTIR UMA VAGA/REPRESENTAÇÃ O DE UMA JOVEM NO CONSELHO DA SECRETARIA ESPECIAL DE POLITICA SPARA AS MULHERES.

Assim sendo estou convencida de que nos as juventudes feministas escrevemos um novo capitulo na Historia das mulheres e jovens do Mundo.

PODE ME CHAMAR DE GAY

Pode me chamar de gay

Pode me chamar de gay, não está me ofendendo. Pode me chamar de gay, é um elogio. Pode me chamar de gay, apesar de ser heterossexual, não me importo de ser confundido. Ser gay me favorece, me amplia, me liberta dos condicionamentos. Não é um julgamento, é uma referência. Pode me chamar de gay, não me sinto desaforado, não me sinto incomodado, não me sinto diminuído, não me sinto constrangido.
Pode me chamar de gay, está dizendo que sou inteligente. Está dizendo que converso com ênfase. Está dizendo que sou sensível. Pode me chamar de gay. Está dizendo que me preocupo com os detalhes. Está dizendo que dou água para as samambaias. Está dizendo que me preocupo com a vaidade. Está dizendo que me preocupo com a verdade. Pode me chamar de gay. Está dizendo que guardo segredo. Está dizendo que me importo com as palavras que não foram ditas. Está dizendo que tenho senso de humor. Está dizendo que sou carente pelo futuro. Está dizendo que sei escolher as roupas.
Pode me chamar de gay. Está dizendo que cuido do corpo, afino as cordas dos traços. Está dizendo que falo sobre sexo sem vergonha. Está dizendo que danço levantando os braços. Pode me chamar de gay. Está dizendo que choro sem o consolo dos lenços. Está dizendo que meus pesadelos passaram na infância. Está dizendo que dobro toalha de mesa como se fosse um pijama de seda.
Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou aberto e me livrei dos preconceitos. Está dizendo que posso andar de mãos dadas com os anéis. Está dizendo que assisto a um filme para me organizar no escuro. Pode me chamar de gay. Está dizendo que reinventei minha sexualidade, reinventei meus princípios, reinventei meu rosto de noite. Pode me chamar de gay. Está dizendo que não morri no ventre, na cor da íris, no castanho dos cílios. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou o melhor amigo da mulher, que aceno ao máximo no aeroporto, que chamo o táxi com grito.
Pode me chamar de gay. Está dizendo que me importo com o sofrimento do outro, com a rejeição, com o medo do isolamento. Está dizendo que não tolero a omissão, a inveja, o rancor. Pode me chamar de gay. Está dizendo que vou esperar sua primeira garfada antes de comer. Está dizendo que não palito os dentes. Está dizendo que desabafo os sentimentos diante de um copo de vinho. Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou generoso com as perdas, que não economizo elogios, que coleciono sapatos.
Pode me chamar de gay. Está dizendo que sou educado, que sou espontâneo, que estou vivo para não me reprimir na hora de escrever. Pode me chamar de gay. Que seja bem alto.

A fragilidade do vidro nasce da força e do ímpeto do fogo.

Pedro Bial, é jornalista da TV Globo.